Vira e mexe me pego vasculhando as gavetas.
São só coisas velhas... fotografias, cartas, poemas de amor, canetas ressecadas pelo tempo e tantas histórias que não foram escritas... elas ficam na memória porque não limpamos a gaveta. O apego. O cheiro de mofo me faz mal... então eu fecho a gaveta do velho armário da sala de visitas e guardo a chave. Espero que ninguém a encontre.
Uma vez perdi a chave (confesso que fiquei aliviada) e não abri a lembrança, ou melhor, a gaveta por muitos anos. Seria a oportunidade de fechar a porta para sempre. Não, a gaveta.
O velho armário foi retirado da sala de visitas e colocado num cantinho do quarto de despensa. Ah, o desapego.
Esqueci.
Sem armário, gaveta, lembranças.
Esqueci.
Viajei. Voltei.
Esqueci.
Mudei.
O apartamento era grande precisei mobiliá-lo e retirei o velho armário do quarto de despensa... era um lindo objeto de decoração.
O armário ficou no apartamento por muitos anos sem que a gaveta fosse aberta. A chave estava perdida em algum canto e as lembranças... esqueci.
Passaram-se anos, coisas, pessoas, uma década!
A campainha tocou Ella cantava na vitrola.
Senti um cheiro de coisa guardada,
abri a porta.
Voltaram as lembranças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário