
Dois meses se passaram e tudo está tão dentro de mim... As lembranças, as experiências, as novas amizades, tudo novo: língua, povo, continente, país, comida, altitude, clima... Quando volto ao dia 04 de junho lembro-me da ansiedade dos 8 meses de preparo e me pergunto o que faz com que 200 jovens brasileiros, de 18 estados diferentes, denominações diferentes, aceitem um desafio de tamanha magnitude: um país com 11 milhões de órfãos, miséria física e espiritual, fome, enorme desigualdade social, corrupção, guerras civis, avanço da AIDS, famílias destruídas, drogas e o pior: a INDIFERENÇA mundial. Mais de 3 bilhões de pessoas com os olhos voltados para a Copa do Mundo da África do Sul, o maior evento do futebol mundial e tudo o que se fala é em jogos, vuvuzelas e safáris...
No primeiro dia de trabalho em Johanesburgo, eu e meu grupo fomos a uma escola chamada "Phumula Gardens Primary School", cerca de 7 km do centro (os bairros pobres e favelas são afastados da cidade). Quando chegamos, 600 crianças nos aguardavam cantando e dançando uma música em zulu (um dos 11 dialetos oficiais africanos) para nos receber, cheios de satisfação e alegria contagiante. Imagine: com tanta miséria, doenças, indiferenças e ataques xenofóbicos, a prática do amor é o imperativo comum ali. A velha máxima, "dar sem esperar nada em troca", o que havia proposto a fazer por eles quando saí do Brasil, me foi antecipado e apresentado da maneira mais sublime, como jamais havia experimentado - "o Amor Ágape", incondicional. No último dia de trabalho em Phumula, o diretor da escola muito emocionado, disse que aprendera conosco o respeito, a humildade e o amor...
Dia desses, já no Brasil, fui a padaria perto de casa. Foi a primeira vez que olhei o padeiro com amor...