"Flor, Telefone, Moça"

"Não, não é conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras não escuta, e vai passando. Naquele dia escutei, certamente porque era a amiga quem falava, e é doce ouvir os amigos, ainda quando não falem, porque amigo tem o dom de se fazer compreender até sem sinais. Até sem olhos..." (Carlos Drummmond de Andrade)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Vídeo Retrospectiva Conexão África 2010

Pedale

"Eu via Deus como um observador, um juiz que não perdia de vista as coisas erradas que eu fazia. Mas, quando me aproximei mais Dele e passei a conhecê-lo melhor, pareceu que a vida era como um passeio de bicicleta para duas pessoas e percebi que Deus estava no banco de trás, me ajudando a pedalar.
Não me lembro quando Ele sugeriu-me que trocássemos de lugar e a vida não foi mais a mesma... Com o seu poder, a vida tinha se tornado muito mais excelente!!! Quando era eu no controle, era tudo previsível. Mas quando Deus assumiu a liderança (Ele conhecia atalhos maravilhosos!), passei a subir montanhas e atravessar terrenos pedregosos em velocidade vertiginosa! Embora tudo aquilo parecesse loucura, Ele ficava dizendo: "Pedale, pedale!"
Eu ficava preocupada, ansiosa e perguntava: "Para onde o Senhor está me levando?" E Deus apenas ria e não me dava uma resposta. Eu me via confiando Nele. Quando dizia que estava assustada, Ele se virava para trás e tocava minha mão.
Deus levou-me até pessoas com dons de que eu precisava como os da aceitação e da alegria. Essas pessoas me ajudaram a prosseguir na minha jornada. Ele me disse então: "desfaça-se da bagagem extra, pesa demais!"
Então comecei a fazer doações e descobri que quanto mais eu dava, mas eu recebia! O meu fardo ficava mais leve. Confesso que a princípio, eu não confiei muito em Deus. Mas, o Senhor conhecia os segredos da bicicleta, sabia incliná-la para fazer curvas fechadas, pular para evitar buracos, aumentar a velocidade para encurtar os caminhos difíceis.
Também estou aprendendo a me calar nos lugares mais complicados.
E quando estou certa de que não posso mais seguir em frente, Ele apenas sorri e diz: "Pedale!"
(Autor Desconhecido)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Gavetas

Vira e mexe me pego vasculhando as gavetas.
São só coisas velhas... fotografias, cartas, poemas de amor, canetas ressecadas pelo tempo e tantas histórias que não foram escritas... elas ficam na memória porque não limpamos a gaveta. O apego. O cheiro de mofo me faz mal... então eu fecho a gaveta do velho armário da sala de visitas e guardo a chave. Espero que ninguém a encontre.
Uma vez perdi a chave (confesso que fiquei aliviada) e não abri a lembrança, ou melhor, a gaveta por muitos anos. Seria a oportunidade de fechar a porta para sempre. Não, a gaveta.
O velho armário foi retirado da sala de visitas e colocado num cantinho do quarto de despensa. Ah, o desapego.
Esqueci.
Sem armário, gaveta, lembranças.
Esqueci.
Viajei. Voltei.
Esqueci.
Mudei.
O apartamento era grande precisei mobiliá-lo e retirei o velho armário do quarto de despensa... era um lindo objeto de decoração.
O armário ficou no apartamento por muitos anos sem que a gaveta fosse aberta. A chave estava perdida em algum canto e as lembranças... esqueci.
Passaram-se anos, coisas, pessoas, uma década!
A campainha tocou Ella cantava na vitrola.
Senti um cheiro de coisa guardada,
abri a porta.
Voltaram as lembranças.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Prosopopéia

Alguns textos são irreverentes outros são redundantes
Alguns são coerentes,
Alucinantes
Não há texto sem verso
Não há verso sem prosa
Não há terço sem reza
Não há espinho sem rosa
Há palavras soltas
Dicotomia
Distorção
Paralelo
Incoerência
Divagação
Eu procuro incorrigíveis
Se não as faço por traço
Navego fundo comigo num breve mar de espaço – o compasso
Volto à reza e a vela ainda está acesa
Acabam-se os versos
Acabam-se as prosas
E as palavras diáfanas e sem consistência
Dão lugar ao silêncio.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor..."

Dois meses se passaram e tudo está tão dentro de mim... As lembranças, as experiências, as novas amizades, tudo novo: língua, povo, continente, país, comida, altitude, clima... Quando volto ao dia 04 de junho lembro-me da ansiedade dos 8 meses de preparo e me pergunto o que faz com que 200 jovens brasileiros, de 18 estados diferentes, denominações diferentes, aceitem um desafio de tamanha magnitude: um país com 11 milhões de órfãos, miséria física e espiritual, fome, enorme desigualdade social, corrupção, guerras civis, avanço da AIDS, famílias destruídas, drogas e o pior: a INDIFERENÇA mundial. Mais de 3 bilhões de pessoas com os olhos voltados para a Copa do Mundo da África do Sul, o maior evento do futebol mundial e tudo o que se fala é em jogos, vuvuzelas e safáris...
No primeiro dia de trabalho em Johanesburgo, eu e meu grupo fomos a uma escola chamada "Phumula Gardens Primary School", cerca de 7 km do centro (os bairros pobres e favelas são afastados da cidade). Quando chegamos, 600 crianças nos aguardavam cantando e dançando uma música em zulu (um dos 11 dialetos oficiais africanos) para nos receber, cheios de satisfação e alegria contagiante. Imagine: com tanta miséria, doenças, indiferenças e ataques xenofóbicos, a prática do amor é o imperativo comum ali. A velha máxima, "dar sem esperar nada em troca", o que havia proposto a fazer por eles quando saí do Brasil, me foi antecipado e apresentado da maneira mais sublime, como jamais havia experimentado - "o Amor Ágape", incondicional. No último dia de trabalho em Phumula, o diretor da escola muito emocionado,  disse que aprendera conosco o respeito, a humildade e o amor...
Dia desses, já no Brasil, fui a padaria perto de casa. Foi a primeira vez que olhei o padeiro com amor...